segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Casa número 362

A Rua do Acampamento foi uma das primeiras ruas de Santa Maria. No ano de 1797, se alojaram os primeiros povoadores da cidade na rua antes chamada de Rua de São Paulo. Suas curvas acomodaram escolas particulares como a Guilherme Wellington e as casas nela construídas receberam figuras ilustres como Ernani Chagas, Roque Callage e o jornalista Alfredo Rodrigues da Costa.
A casa de número 362, construída em 1915 e hoje demolida, foi projetada por Cesare Dacorso (que também projetou a câmara de vereadores e o pensionato Santa Tereseinha) vindo da região de Sardenha na Itália. Dacorso construiu uma casa de estilo eclético com quadros decorativos do pintor espanhol Francisco Ros para o primeiro tabelião da cidade – Abelino Viera da Silva nascido em Cachoeira do Sul em 1868.
A seguir a casa passou a ser propriedade da família Aita (dona da Rodoviária) e comportava uma clínica oftalmológica até ser demolida. Ainda ninguém sabe o motivo da destruição, mas a família alegou que a estrutura da casa está cedendo e, portanto, não oferece segurança aos moradores.
“A casa”, diz José Antônio Brenner (um dos arquitetos mais antigos da cidade), “pode ser considerada de estilo eclético, uma mistura de estilos antigos com os melhores materiais da época”. Procurando um pouco sobre estilo eclético encontrei que foram os portugueses, italianos, espanhóis, gregos, paulistas e mineiros que trouxeram as técnicas e a idéia de construção de fachadas adornadas com elementos da arquitetura clássica, enriquecidos com motivos de leques e arcadas.


As casas desse estilo – típico dos anos 1910-1920 – têm poucos jardins laterais, são altas com respiradouros para o porão que podem ser habitados, são de alvenaria de tijolos, pintadas com cal, as janelas são de madeira e ferro e portas de madeira, assoalhos de piso e forro em madeira ripada. Há uma composição harmoniosa entre claro e escuro, relevos e vazios.
O estilo eclético é um tipo de arquitetura característico de uma época, reflete um estilo de vida, um tipo de produção cultural, por isso a conservação deste tipo de construção é necessária para a preservação de nossa história. “Há em Santa Maria uma falta de estímulo para a conservação de prédios históricos. O projeto da prefeitura de reduzir um pouco o IPTU de casas particulares não ajuda as famílias a conservar as obras arquitetônicas importantes, “É um deboche!” – desabafa Brenner.
Paris, Veneza e todas essas cidades com históricas só são pontos turísticos por esforço de suas prefeituras e de sua população. Não adianta depois, como “medidas paliativas”, espalhar placas pela cidade com fotos dos primórdios de Santa Maria e suas personalidades com o título “Santa Maria, Nossa História” se não há incentivo para a conservação do patrimônio histórico da cidade. Dessa forma nossa memória ficará apenas nas fotos.


Agradecimentos à Teresinha Santos da Casa de Memórias e Tarciara arquivista da Casa, também ao arquiteto José Antônio brenner.

Para quem tiver vontade de ler textos sobre estilo arquitetônicos entre outros assuntos o site Vitruvius tem vários, inclusive o texto que usei para este post. Quem quiser reclamar para a prefeitura.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Patrimônio histórico de Santa Maria


A demolição da casa na Rua do Acampamento foi uma grande perda histórica e sentimental para a cidade. A construção de 1915 fazia parte do cotidiano dos santa-marienses. Esta foi a motivação da criação deste blog, para percorrer os caminhos da cidade, encontrar e contar histórias dos prédios além de alguns comentários sobre a arquitetura deles.
Acima uma foto que eu tirei da casa da Rua do Acampamento enquanto ela era demolida.